quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

El Rompecristales

- senhora, nos explique por que quebrou a cabeça desse moço.
- ééééééé...
- o trem parou. Apareceu fumaça. Por que a senhora quebrou a cabeça do moço?
- ééé... A saída de emergência indica que devemos quebrar o vidro da janela...
- existe um martelo para quebrar o vidro da janela. Por que a senhora quebrou a cabeça do moço?
- éééé... usei o martelo quebra-vidro na janela, mas... ele fica guardado... atrás de um vidro...

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

De particular cultura

Não sei por que dar aulas de brasileiro (antigo português) nas escolas brasileiras, de argentino nas argentinas, e assim por diante.
No vôo entre São Paulo e Madri, não havia um único tripulante que falasse brasileiro ou espanhol.
Tudo que há de “interessante” na internet, está em inglês. As expressões, os cartazes, as liquidações de lojas, as placas indicativas.
Mas, antes de eliminarmos as outras línguas por sua dificuldade, complexidade, riqueza, e estabelecer somente o inglês como língua universal, precisamos estudar se não há formas ainda mais simples, fáceis, práticas, de comunicação.

“Você PRECISA saber inglês”.

“Por que?”

“Santa ignorância”, pensa o interlocutor. “Porque é a língua do mundo”.

“Mas por que o inglês? Por que não pode ser o javanês?”

“Eu sabia que essa gente do terceiromundinho é tudo burro mesmo”, segue pensando. “Porque o inglês é fácil, é simples, pra aprender é rápido, é cheio de qualidades pra ser a língua mundial”.

“Ahhhhh”, faz a perguntadora, com cara de desentendida. “Mas, então, se é por isso, por que não adotamos formas ainda mais fáceis e simples de nos comunicar?”

“Como por exemplo?” desafia o interlocutor.

“Ah, poderia ser mímica. Ou apenas ruídos indicativos, tipo se estou com fome, faço nhãnhãnhã”

“Hahahaha, você é muito boba mesmo! Me diga, como eu faria para paquerar uma mulher?”

“Ué, a forma mais simples que teu cérebro compreende: dá-lhe com o tacape na cabeça!”

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Avante Itália!!

AS vezes olhar o passado ajuda a desanimar. Mas, saber que as lutas mais antigas foi o que nos permitiu chegar aqui, é combustível pra manter o ânimo. Somos os herdeiros e herdeiras daquelas e daquelas que andaram sobre essa terra com foice, fuzil e violão.
Ao trabalho! Á luta! Ao baile!

"BELLA CIAO

Una mattina, mi son svegliato
oh bella ciao bella ciao bella ciao ciao ciao una mattina,
mi son svegliato ed ho trovato l'invasor
Oh partigiano, portami via oh bella ciao bella ciao bella ciao ciao ciao
oh partigiano, portami via, che mi sento di morir
E se io muoi, da partigiano
oh bella ciao bella ciao bella ciao ciao ciao
e se o muoi, da partigiano, tu mi devi sepellir
E sepellire, lassu in montagna
oh bella ciao bella ciao bella ciao ciao ciao e sepellire,
lassu in montagna, sotto l'ombra di un bel fior
Tutte le genti, che passerranno
oh bella ciao bella ciao bella ciao ciao ciao tutte le genti,
che passerranno, mi diranno che bel fior
E questo è il fiore, del partigiano
oh bella ciao bella ciao bella ciao ciao ciao e questo è il fiore del partigiano,
morto per la libertà e questo è il fuore del partigiano,
morto per la libertà"

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Da solidariedade

Esta semana o Haiti sofreu um terremoto terrivel. Muita gente morta, gente ferida, infraestrutura destruída.
E o mundo se mobiliza para ajudar, começando pelo Brasil, que já mandou algumas toneladas de alimentos, medicamentos, etc. Várias ONGs e órgãos da ONU colocaram contas bancárias a disposição da 'solidariedade' mundial.
O que aconteceu é horrível, e o povo haitiano está sofrendo muito mais do que já sofria. Ou não.
O Haiti é dos mais pobres países da América Latina. E sofre com a vergonhosa intervenção internacional em seu território. Haveria que perguntar ao povo haitiano: "serão vocês incapazes de organizar seu país por conta?"; mas, nós, os outros do mundo, preferimos determinar que eles são incapazes de exercer sua soberania.
Ha quanto tempo as tropas brasileiras estão no Haiti? Isso melhorou a qualidade de vida do povo de lá em quê? Por que em lugar de soldados, não mandamos médicos, médicas, professoras e professores?
Nesse momento lamentamos a tragédia, e nos sentimos melhor por fazer uma doação em alguma conta da Unicef. Sem saber, ou preferindo não saber, que esse dinheiro vai engordar as mesmas industrias que promovem a pobreza no mundo, tal como em todas as "reconstruções" da história. O recurso investido pelos Estados Unidos na Europa, através do Plano Marschal, voltou aos Estados Unidos, sob a forma de contratos com empresas.
Assim no Iraque, assim no Afeganistão, assim no Haiti.

A solidariedade é muito importante. Ela é um dos elementos que nos mantém unidos como classe trabalhadora. Mas, solidariedade não é caridade. Solidariedade é compromisso. E só existe quando ocorre entre iguais. Se for entre diferentes, é caridade.
O povo, nem mesmo o povo haitiano nesse momento, precisa de caridade. O que precisamos é construir a solidariedade. De classe.
Sei disso, porque sou trabalhadora, e nesse momento me toca viver entre os trabalhadores e trabalhadoras de Madri, e tenho recebido a solidariedade sem preço deles e delas.
Só nós, a classe trabalhadora, temos a solidariedade. Entre os capitalistas só existe troca de favor, caridade, e prestação de serviços a serem pagos de alguma forma.

Termino chamando que nos mobilizemos pelo povo do Haiti. Mas, nos mobilizemos com a consciencia da classe trabalhadora.
e, que os soldados voltem aos seus países.
Soldados não constroem segurança, muito menos cidadania. Segurança, cidadania, soberania, se constroi quando os povos são sujeitos de seus destinos, começando com a capacidade de produzir seu proprio alimento.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

De trabalhos e trabalhadoras

Trabalhei cinco dias na pizzaria. Me demiti. Dois motivos principais, que infelizmente não são engraçados:
1. Não tenho jeito pra produzir lucro pra um dono. Se as pessoas que iam lá comer, trabalhadoras e trabalhadores como eu, podiam comer e beber gastando menos, e ainda assim garantindo o funcionamento da pizzaria, por que deviam pagar mais, só pra uma pessoa ter mais lucro? E um lucro que não seria distribuido entre nós que trabalhávamos alí.
E, as gorjetas... iam pro bolso do dono. Pelas contas, só as gorjetas já pagariam um aluguel.
2. Além de explorar o trabalho, o dono queria também explorar sexualmente as trabalhadoras. Reclamou porque eu levava a camisa fechada até o último botão, por exemplo. Assim, estava num caminho em que fatalmente iria me deparar com um processo judicial, coisa que agora não tenho tempo pra empenhar.
Então, optei por sair, e voltar aos trabalhos do curso, que não fáceis.
Sobre os trabalhadores imigrantes:
1. Boliviana, 24 anos, um filho, vive com o companheiro, a mãe e a irmã. Ilegal, 'sin papeles'. Ha cinco anos em Madri, querendo voltar, porque tem ouvido notícias de que em Bolívia as coisas começam a melhorar;
2. Romena, 20 anos, uma filha, vive com a mãe, pai, irmãos. Em processo de legalização, porque Romenia entrou para a União Européia, mas, por dois anos, os romenos/as não podiam trabalhar fora da Romenia (claro). Quer voltar.
3. Paraguaio, uns 26 anos, mais de dois filhos/as, vive a quase cinco anos em Madri. Ilegal. Quer voltar, mas, se se apresenta para embarque, será deportado e não poderá mais voltar aqui. Quer voltar ao Paraguai com possibilidade de retornar a Espanha se quiser. Está tentando se legalizar.
O dono... não quero nem falar.
Bien de bien, a Trabalhadora volta aos afazeres antigos, sabendo fazer café na máquina e tirar cerveja do grifo (um equivalente ao chopp).

sábado, 2 de janeiro de 2010

Do espírito de sacrifício à alegria da revolução

O sacrificio tem conotação religiosa, oferecer algo ou alguém a uma deus ou uma deusa, algo de valor para quem oferece: 10% dos ganhos? Uma cabra? Uma escadaria de joelhos? Uma filha? A própria vida?
Pelo que sei, pelo menos no islamismo e no candomblé, o sacrifício de animais (sacrificar humanos não é permitido, que fique claro), deve ser feito sem dor ao animal oferecido.
O tema da dor recebe outro tratamento em outras religiões: os autoferimentos provocados por chicotes, por pagamento de promessas com marchas e joelhos no chão, o jejum, etc. A dor seria o meio de se aproximar de deus, de se purificar, de ser perdoado.
Todavia, quando falamos em espírito de sacrifício, não há referência com religiões, mas com as lutas dos povos por uma vida melhor.
O que é o Espírito de Sacrifício? É nos dedicarmos às tarefas mais árduas e pesadas no movimento revolucionário; é sobrevivermos às mais duras condições mantendo o ânimo para a luta.
Chê disse que "nosso sacrifício é consciente: ele é a cota de pagamento da liberdade que construímos". Estou de acordo com Che. Ele próprio sacrificou literalmente sua vida acreditando na revolução. Há vários aspectos que podem ser debatidos, mas, não iremos entrar nisso agora.
Creio que há uma contradição intrínseca nisso: sacrifício consciente.
Sacrifício é sacrifício, é dor, é pena. Se for consciente, é porque é feito por desejo, não por necessidade nem por imposição.
Se o sacrifício é consciente, é feito por desejo, ele deixa de ser sacrifício, e passa a ser mais uma tarefa realizada com alegria pelos resultados que dará.
Nestor, amigo tupamaro uruguayo, me disse várias vezes que a revolução só poderá ser feita com alegria. Com lágrimas não se constrói uma sociedade feliz, um movimento feliz. E, não empenhamos nossa vida pela tristeza, mas pela alegria.
Por que 'sacrifício', então? Talvez, porque outro ponto de vista veja nossas opções como sacrificiais.
Mas, que este sacrifício não seja andar descalço tendo sapatos, passar fome tendo comida, andar a pé tendo cavalo. Quando abrimos mão deliberadamente do acúmulo técnico da humanidade, para mostrar que temos espírito de sacrifício, estamos insultando aquelas e aqueles que de fato não têm calçados, comida e cavalo.
O sacrifício só é alegria empenhada na revolução socialista quando têm fundamento concreto. Uma pessoa a mais passando fome por romantismo, não nos coloca mais perto da revolução. Uma pessoa a mais que esteja consciente, sim.
Que neste novo ano, o espírito de sacrifício seja substituído pela alegria revolucionária, a mola propulsora do novo tempo.
Se a parteira do capitalismo foi a violência, que o socialismo seja feito e parido pela alegria. A felicidade e a alegria não existirão por decreto, elas precisam estar em nós, para que as coloquemos em cada tijolo, em cada árvore e em cada flor do nosso mundo.

Começos

Vale.
Queria continuar as histórias, mas, o tempo está mais escasso. Comecei um trabalho remunerado, em uma pizzaria italiana, e essa tarefa tem me tomado bastante tempo. Antes já estava trabalhando, claro, mas, sem remuneração.
Por estes dias, estou ainda observando e estudando como fazer a conciliação entre a sobrevivência econômica, o curso, as tarefas políticas, a sobrevivência cultural (filmes da web, livros não ligados ao curso, e o blog), que são os aspectos fundamentais da vida nesse momento.
Dia 11 as aulas recomeçam, e até lá preciso do tempo livre para escrever os trabalhos finais das disciplinas, que estão a passo de tartaruga. O que estava mais obscuro era o de Donezar, mas depois das orientações de Neila e Sol, de várias leituras e ruminações, acho que encontrei o fio da meada.
Bueno, que todas e todos tenhamos um bom ano, que reencontremos e encontremos nossas alegrias, que o exercício da paciência não nos impeça a ação, e que nosso povo se levante cada vez mais na luta por justiça social e soberania popular, num movimento consciente, consistente e duradouro.

abraços, até sempre, até a vitória!