segunda-feira, 31 de maio de 2010

24. De como Lenoir retoma contato Wolf

Acorda assustado, cheio de dores, com o tornozelo inchado e com fome. O sol queimava, e o relógio indicava quase meia tarde.
"que merda fui fazer...", começa a se arrepender da impulsividade com que agira. Tanto tempo levara pensando em como fazer isso, e agora se sentia só e meio desesperado.
"que merda, sair assim e agora posso morrer de sede e inanição"

Levanta-se com apoio do cajado improvisado, caminha por uma hora, e a respiração fica difícil, com a garganta seca. Consegue chegar a uma estrada, e caminha mais lentamente. Mais meia hora, e aponta uma carroça, que pára sem mais, Lenoir se atira dentro dela sem perguntas.
O condutor lhe oferece água, e olha o pé machucado, "tem tratar isso, moço". "Isso é óbvio", pensa Lenoir, e em voz alta, "sim, assim que chegar na próxima cidade... qual é a próxima cidade?".

O carroceiro o olha com desconfiança. Mas, acima de tudo, ajudar o pobre, tão sujo e com um aspecto tão deplorável. "vamos pra minha casa, você pode comer e tomar um banho". O viajante agradece, se recolhe em pensamentos, desejando encontrar também um telefone em funcionamento.

Tem sorte. Desce da carroça com a ajuda do homem, e ao ver o aparelho na sala, pede para usar. Querendo se livrar do imprevisto hóspede, o dono da casa assente imediantamente.
O telefone dela, mudo. "Querida...", como queria ouvir a voz dela. O número dois em importância, John; também mudo. O número três, Wolf, o atende pronto. Tentam se entender por meio de senhas, um pouco complicado, mas, ao final fica entendido que Wolf tentará chegar onde o outro está até o dia seguinte.

"quer que chame um médico?"
"não tenho dinheiro"
"então toma esse remédio, é pra dor, pelo menos ajuda"
"se puder passar a noite aqui, amanhã um amigo vem me buscar"
"te levo pra cidade, e te deixo num hotel. Com essa guerra..."

Lenoir entende o medo do camponês. Fica contente com a ajuda, agradece, e depois de banho tomado e jantar, recebe um pacote de alimentos e os dois seguem de carroça pra cidade. O automóvel fica estacionado, "economizar gasolina, com a guerra..." explica o sábio camponês.

23. Sobre as tarefas de Zita

Deixando a amiga dormir, Zita revê a lista de coisas a arrumar: leite condensado, carimbos, roupas, perucas, plástico, cola, estiletes, mimeógrafo,...
Sai cedo, faz a feira, disfarçadamente entrega um bilhete a um menino; vai ao consultório médico de sempre, enquanto a atendente verifica se há horários, pede licença e usa o telefone do consultório.
"Oi, sou eu. Você vai receber o endereço. Segue pra lá e leva o pacote pro segundo ponto marcado."
Desliga, agradece a atendente, deixando uma consulta marcada pra 30 dias.

A idade fazia de Zita a segurança em pessoa. Quase chegando aos setenta anos, tinha conhecido a mulher em uma festa de bairro. A amizade nasceu por caminhos difíceis, pois a personalidade forte das duas  as fazia digladiarem constantemente. Disso nasceu um respeito mútuo, que se enraizou na sinceridade e na afinidade política.
Zita não era uma militante do cotidiano; aposentada, vivia de orientar leituras aos mais jovens, e muitas vezes acolhia a mulher quanto esta mergulhava em dias tristes. A mais jovem chegava, colocava Orishas no toca-CD, deitava-se no sofá com uma lata de leite condensado, e as vezes contava histórias, outras vezes ouvia as histórias.
Foi assim que Zita soube de Bu, de Lenoir, de Wolf; foi em dias assim que as duas construíram teorias sobre o porvir, e acharam que deviam ir se preparando para uma ofensiva da direita.

A mulher ouviu e aprendeu da vida de Zita. Os amores, as dores, os equívocos, as culpas, os desejos de morte e de vida, e admirava como a avó levava a vida cheia de jovialidade, sem medo do fim.
Zita não tinha filhos, um acidente a havia deixado estéril muito jovem; com isso, deixou o amor de sua vida livre para escolher ficar com ela ou não; cheia de dores, viu seu amor partir chorando por perdê-la, e quando o chamou de volta soube que ele realmente queria estar livre dela. Ele a culpou pelo fim da relação, e nunca mais se falaram.
Desde então ela se apegara aos livros. Teve amantes casuais, feriu e foi ferida, e nunca mais recuperou aquele tipo de felicidade. Conhecer a mulher que agora acolhia como filha fôra um alento. Sofriam juntas, brigavam riam, compartiam a vida dentro do possível.

A abuela chorava ainda seu amor perdido, mas, tinha convicção política como poucos. A clareza da conjuntura fizera dela uma destacada conselheira, e a experiência de vida a fazia uma estrategista como poucos.
Tempos antes as duas tinham planejado esse dia. A senha. As ações. As saídas. Até agora, tudo caminhava relativamente dentro do conforme. Menos a prisão de Wolf.

Depois de feitas as compras, Zita partiu em busca de onde estaria Wolf, descobrindo com relativa facilidade, voltou á feira e entregou outro bilhete a outro menino, com indicação do hospital e de como proceder.

Voltando a casa, observa disfarçadamente o policial que vigia, esbarra com ele e reclama da artrite, dando-lhe um simpático sorriso.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

22. Do descanso de Pedro

Deixando os turnos de vigilância da casa de Zita organizados, Pedro já tinha distribuído dois grupos para verificarem os endereços tirados das anotações dela, e agora podia deixar-se estar em casa.

Não dormia a mais de quarenta e oito horas, e a adrenalina já não era reposta. Olhou-se no espelho, tentando recordar as horas depois da declaração da guerra. Tropas de deslocando, refugiados em toda parte, e ele perdendo e recuperando ‘sua’ mulher.

Está feliz por a ter novamente baixo vigilância. Ela era chave para completar o quadro de vermelhos na região.

Ademais, havia a Legião Estrangeira. Ele tivera acesso ao manifesto da Legião meses antes, e era claramente comunista. Ela tinha ajudado a escrever o manifesto, disso tinha certeza. Todavia, não lograra avançar nas investigações nessa direção. A indecisão sobre o papel de Lenoir, o mapa dos membros ativos das organizações vermelhas, lhe haviam tomado o maior tempo. O resultado eram as várias prisões de primeira hora.

No processo de vigiá-la, ele tivera êxito além do esperado, e conseguira promoções a muito desejadas. Sabia de cor e salteado a ofensiva que o governo lançara contra as organizações populares, e tinha intuído que era só a preparação do caminho da guerra.

Deitado na cama, a imagem dela lhe incomoda. Não era bonita, mas... era forte. Tinha o rosto marcado, alguns vincos se aprofundavam, denunciando, muito mais que a idade, os anos de maus tratos. Tinha um cabelo longo, sempre despenteado, quando muito preso num rabo-de-cavalo. Apesar da idade, tinha as pernas fortes, e adorava vê-la subindo escadas, aos saltos, como se voasse.
Ele tinha reconstruído a biografia dela. Sabia das surras que ela tinha levado e das que tinha dado. Sabia das cicatrizes que a marcavam, que faziam a pele imperfeita.

Com o tempo, começara a respeitá-la. Tinha uma inteligência peculiar, era briguenta, fazia amigos e inimigos quase ao mesmo tempo, era teimosa e convicta. Isso não encaixava...
No sonho, os dois se encontravam, num lugar estranho, que parecia uma barriga de baleia.

Despertou com o rádio dando notícias. O sol já estava se pondo. Banho, barba, arma, distintivo.
Segue pra delegacia, recebe a descompostura do chefe pelo problema com Wolf, agradece mentalmente a situação de guerra, que faz a importância das coisas ser relativa, e toma os relatos da guarda da casa de Zita.

A mulher saíra pela tarde. Comprara alguma coisa sem importância, passeara pelo museu, passara na biblioteca central, sacara pouco dinheiro. Nada importante.

Pedro segue para o posto de guarda. Chama o agente que está na campana.
“Quanto tempo de inatividade?”
“Duas horas, senhor”
“Vá pra casa”

Assume a vigilância. Imagina quando ela irá sair, se irá buscar Tornado, se irá encontrar Lenoir... “onde tá esse maldito?”

21. Da reintegração de Wolf

“Melhor não esperar o velho chegar aqui pessoalmente.”
Wolf se rendera ao cansaço, e ainda jazia inerte no chão da sala do delegado.
“Dêem uma ajeitada nele, e façam como mandei. Sem erros!”

Dois soldados o levam ao banho, limpam um pouco do sangue, e carregam num carro civil. Rodam até um hospital mais distante, o deixam nas proximidades e partem.

O sangramento havia parado, e a limpeza parcial feita pelos policiais não lhe quitara o horrível aspecto. Logo foi recolhido por dois trabalhadores que, obrigados á voltar à normalidade, se dirigiam ao trabalho em hora inusual.

A cidade voltava ao movimento. Comercio reabria, todos os serviços funcionavam. Havia restrições no uso da internet e telefone, mas, nada que afetasse o “cidadão normal”. Algumas notícias sobre prisões de elementos perigosos, que trabalhavam para os “maus”. Parte da população de acordo, guerra é guerra e não se pode perdoar quem seja leal ao inimigo.

Uma pequena parte do povo estava convencida de que a guerra era o melhor, assim iam se livrar de vez do risco de pobreza que o Sul representava. Aquele quadro de miséria incomodava, especialmente porque o Norte parecia caminhar justo nesse sentido, com perdas de direitos trabalhistas e aumento da fome e da violência.

“Tem que acabá com esses pobre”, se ouvia em algum canto. O desejo inerente de acabar com a pobreza, bem orientado pela mídia interessada em manter o status quo, se tornava o desejo de acabar com as pessoas.

Wolf foi examinado superficialmente pelos plantonistas, e levado ao quarto para atendimento adequado, assim que descobriram o cartão de visitas do avô, deixado pelo delegado em seu bolso.

Ele aproveitou para dormir. Despertou sob o olhar acusador de Joana, quando o sol já passava do meio do céu. “Preciso voltar ao porão”, o primeiro pensamento.

Ademais de um respeitado professor universitário, ele tinha um avô em um alto cargo militar, distante o suficiente para não brigar diariamente, perto o suficiente pra tirá-lo da cadeia e depor em favor de sua lealdade ao eixo do PP (Paz e Progresso).
Sua ficha policial não existia, nunca havia sido nem mesmo multado por nada, nem pelas bibliotecas.

O único vínculo que poderia ser conhecido era seu amor por ela.

Joana lhe pergunta alguma coisa, que ele não ouve. O corpo não dói, entorpecido pelos medicamentos. Quando Joana pára de falar, abre os olhos, ela está saindo do quarto, dando passo ao avô.

“Que fazia correndo na madrugada? “
o semblante feroz, que sempre tinha metido medo, está bem perto. Como quando, poucas vezes, estivera sentado no colo daquele homem que parecia tão distante.
“A vó tinha me chamado...” balbucia.
“Que vó?”
Ele conta a história. O velho militar, viúvo, liga para a mulher, que confirma tudo. Ela estava mal, a guerra devia ter lhe afetado os nervos, e chamara Wolf, que era o único neto que tinha, porque achou que ia morrer. Pedia desculpas pelos incômodos.
“Incômodos???? berra o avô, Ele quase morreu!!! e você vem falar de ‘incômodos’??”

Wolf senta na cama, começa a se vestir.
“Onde vai?”
“Tenho que ir...”
O avô olha o neto detidamente.
“Você não pode sair. Comigo aqui você não sai, precisa se tratar; e esse ferimento, tá bem medicado? Te falaram o que deve usar pra terminar de curar? Deite-se e seja cuidadoso como deve ser um homem”.

O neto não se deita, olha os olhos do avô com suavidade.
“Preciso ir.”
O velho dá meia volta,
“Vou pedir proteção pra você, mandarão um soldado ficar na sua porta, os canalhas que fizeram isso contigo podem voltar, e em tempos de guerra, melhor prevenir”, e sai fechando a porta.

Recobrando força, verifica os curativos, termina de vestir-se, e sai do quarto o mais firmemente que pode, antes que algum soldado apareça.

terça-feira, 25 de maio de 2010

20. De como se caminha na noite

Ele cai rolando no meio do capinzal, mas sem conseguir evitar a machucadura no tornozelo. Se levanta cambaleante, respirando com atenção a ver se há costelas partidas, avança pelo mato baixo, e se interna entre o arvoredo.

Ocupados com o trânsito, ninguém nota o homem se afastando.

Logo faz um bastão, e segue devagar, atento a qualquer movimento ao seu redor. Vai de árvore em árvore, no bosque de pinheiros, ofegando pela dificuldade em pisar no solo. "que merda, me machucar justo agora..."
Aproveita a escuridão e caminha, tentando não perder a referência da estrada.

Lenoir se sentia meio perdido, não tinha certeza de o que deveria fazer. A única coisa que sabia era que a amava, e que para sua sensível fragilidade, ela era o porto seguro. Muitas vezes ela era mimada, aparentava fraqueza, mas, ela sempre era capaz de tomar as decisões que para ele custavam tanto. Ela era parada dura quando se tratava de encarar qualquer dor, "dexa pra mim", ela havia dito quando ele ponderava sobre a dor que ia causar em outra pessoa, "dexa comigo, eu seguro a onda". Isso também o irritava as vezes, a segurança com que ela passeava entre os problemas, o desdém que aparentava pela dor, o jeito como desafiava a vida.

Agora, ia tentar chegar até onde imaginava que ela estaria. "Muitos quilômetros...", nem pensara em procurar o comitê da Internacional em sua cidade, agora é que lhe ocorria que o lugar de reuniões devia estar destroçado nesse momento; os companheiros e companheiras não lhe preocupavam, "bando de 'pijos', maleducados, sempre me trataro tão mal... gente maleducada...". No aspecto pessoal, havia comido o pão que o diabo amassou entre aquela gente, cheia de dinheiro e frialdade. Não estava entre os seus, não eram sua gente.

O que o havia prendido alí tanto tempo era o saber-se especial, tinha experiencia de vida muito muito distinta da gente do lugar. Seus anos de militância e a clareza política lhe haviam levado a mudar de cidade, e o romantismo revolucionário o haviam aproximado de uma mulher do lugar. Logo, a realidade trouxe seus defeitos e fraquezas ao cotidiano, apagando a chama apaixonada que os tinha unido. O ideal romântico-estudantil se esborracha frente ao rochedo das dificuldades. O que era gracioso passa a incomodar, e sem profundidade política nem afinidade pessoal, tanto a relação amorosa quanto as relações pessoais com as outras pessoas foi se tornando um inferno.

Agora, caminhando na noite, entre o bosque de coníferas, tenta lembrar o que poderia comer. "Ela saberia...", a mulher que deseja encontrar tinha experiência de campo, e pelo cheiro e pelo sabor, poderia dizer que plantas poderiam ser consumidas.
Sentindo a falta física dela, e imaginando que já alcançara uma zona relativamente segura, se acosta a uma árvore, e fecha os olhos, sonhando com ela.

19. Da base Zita

Toca o interfone, espera longos cinco minutos, e Zita responde.
"Urgência", nem precisava dizer, pois tocar um interfone àquela hora só podia ser emergência.

A dona da casa reconhece a voz, e mais além, esperava desde a manhã ouvir aquela palavra a qualquer momento. Era a senha para o que poderia vir depois, e estava preparada. A mulher sobre a escada de dois em dois degraus, enquanto Zita deixa a porta aberta e vai a janela, no escuro, espiar a movimentação na rua. Vê Pedro ao telefone, na sombra, um ponto iluminado pela tela do celular.

A recém chegada se lança nos braços da velha mulher, e as duas se estreitam, querendo transmitir mutuamente esperança e conforto.
"Filha...", "mama mía!", e se riem entre as lágrimas.

Preparam chá, biscoitos, a mulher toma banho, se veste com roupas de Zita e lava as próprias roupas. O dia vai rompendo, e ela quer saber as notícias.
"Seja forte... - começa Zita - vô começá pelo pior. Bombardearam, em Brasil, a uma mobilização dos campesinos e campesinas; estavam em marcha a três dia, e onte, um dos primero alvos foram eles e elas... morreram quase todos, cerca de quatro mil pessoas...
Acho que esperavam, antes que os países reagissem, acabá com as organização social, facilitando o trabalho dos grupos que tão agindo internamente pra derrocada dos 'país rebelde'."
"Sim, todo mundo sabia que nós era a base forte na construção de otra proposta... depois que conseguimo garanti o pré-sal pro povo, então...", suspira a mulher.
Zita continua, "sim, em todos os país que foram os primero alvo, atacaro também os movimento popular logo de cara. A Internacional tá firme com os governo aliado, e aqui e nos otro país da Aliança pra Paz e Progresso, sabia que se dero esse nome? 'paz e progresso', começando com uma guerra, como é típico... então, aqui e nos otro começaro com as prisão de ocêis... ocê tem que se cuidá, filha..."
"Tenho que dormi, Zita. Você pode ir preparando as coisa?"
"Sim, descansa, descansa. Vô vê tudo que posso dexá pronto."
"Você pode perguntá por Bu?"
Zita a olha sem surpresa. Ela amava Bu, nunca havia duvidado nem escondido.
"Até agora, não tive notícias dele... sinto muito"

A mulher se deita no quarto escurecido pelas cortinas. A ação do chá e do escalda-pés é relaxante. A dor pelos mortos e mortas passa como um filme, e vai calando no coração. Busca na memória alguma música boba que a ajudasse a olhar de longe... "toda vez que falta luz, o invisível salta aos olhos...", "música de almanaque Sadol", como diria Bu. "sobreviva, querido, sobreviva...", e fecha os olhos, sonhando.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

18. Sobre a delegacia

Direto pra delegacia, sem nenhuma pergunta.
"Tá vivo, né?", "Tá, tá se mexendo".
Chega o delegado.
"Que merda vocêis fizero? puta merda, seus idiota"

Os policiais se olham, sem entender. "Senhor, o elemento tava correndo na rua, e não parou..."
"Vocêis sabem quem é ele? Sabem? Putamerda, que problema... seus idiota, idiota!"
O delegado anda de um lado pra outro, olhando a figura de Wolf no chão, sangrando, um olho inchado.

Antes da chegada do delegado, esperando o amanhecer, os soldados haviam colocado Wolf no corredor de celas dos ultimos que haviam sido presos. Alí estavam Guilhermo e John, nas celas em frente e ao lado. John não podia falar, com dentes quebrados e a boca muito machucada, escrevia algumas palavras com água no chão, e um colega de cela ia lendo. Guilhermo estava em melhores condições físicas.
Falando baixinho, passando notícias de boca em boca, trocaram informações. Quem estava a salvo por enquanto, que encaminhamentos haviam sido tomados, que sugestões cada qual tinha.

Tentando superar as dores, Wolf faz um registro mental de quantos estão alí, quem são, e as idéias dos companheiros. Nunca havia estado numa delegacia. E essa primeira vez estava sendo extremamente dolorosa.

Os presos políticos estavam sendo conduzidos à essa delegacia, o Centro de Inteligência. Imaginava-se que logo iriam levar todos a penitenciárias. Mas, com a situação da guerra...
A tortura havia sido usada livremente desde o primeiro minuto. Todos os presos que alí estavam eram militantes conhecidos; se organizar o povo passa a ser crime, eram todos implicados.

Nos últimos anos, a desigualdade de distribuição de riqueza aumentava mais rapidamente. O mundo tinha tecnologia para diminuir a carga de trabalho de cada pessoa em 80%, e produção suficiente para promover um bem viver em cada cantinho do planeta.
Ainda assim, as taxas de desemprego cresciam, alimentos estragavam em armazéns ou no campo, as terras, a água e a produção de alimentos estavam em mãos de quatro empresas transnacionais.
Doenças da fome se espalhavam, junto com a violência. Um guarda de um bairro rico matou duas mulheres que reviravam o lixo no portão de entrada; milhares de pessoas tomaram o bairro, destruíram as casas e levaram toda a comida; a polícia reprimiu e matou 60 pessoas.
Diversos outros casos se repetiam. A polícia cada vez mais armada, mostrava presença. Os países enriquecidos fecharam as fronteiras para o povo que haviam espoliado durante séculos. Nenhuma negra ou negro entrava na Europa ou Estados Unidos e Canadá.

Os movimentos organizados estavam conseguindo importantes avanços. Lograram construir uma articulação mundial, onde se incluíam governos não submissos. Era assim que caminhavam para o fortalecimento da soberania alimentar em seus países, travando duras lutas contra as empresas transnacionais, e os governos que as serviam.
O poder de ter armas nucleares, desenvolvidas com tecnologia própria, foi o fator que determinou a declaração de guerra. Os países historicamente enriquecidos sobre o sangue dos empobrecidos, cansaram de tentar derrubar Fidel, Evo e Chavez, cansaram de tentar puxar Lula e Hu Jintao definitivamente para seus projetos. A diplomacia não resolvia tudo de modo satisfatório.

Enquanto a guerra aberta era travada, dois movimentos seriam feitos: acabar com as organizações populares nos países da Aliança para a Paz e o Progresso - EUA e União Europeia, basicamente, e aumentar a infiltração e a ação nos países rebelados - América Latina, Africa e Asia.
A propaganda estava sendo veiculada subliminarmente a algum tempo, convencendo as pessoas de que qualquer estrangeiro era uma ameaça, e que os problemas do povo latino, africano ou asiático não eram os mesmos do povo norteamericano ou europeu.
Com o tema do subsídio agricola, tentaram quebrar a aliança que já existia entre campesinos e campesinas de todo o mundo. Com o tema da fome e do desemprego, tentaram convencer de que o problema eram os migrantes, em especial os negros.

Emergido brutalmente dessas reflexões, Wolf foi levado para uma sala da delegacia, deixado no chão, à espera do delegado, que agora o rodeava nervosamente. O ferimento da bala voltara a sangrar.
"que vamo fazê com ele, seu delegado?"

sábado, 22 de maio de 2010

17. Sobre o que é pedra

Com o material selecionado dos cadernos e anotações que havia recolhido no lixo, com listas de endereços, Pedro distribui alguns agentes para começar a caçada.

Os soldados que fizessem a guerra lá fora. Aqui, sua guerra era caçar esses insistentes comunistas que ainda falavam em socialismo. E ia fazer isso com qualidade. “esses merda”.

Nascido em uma família pobre, Pedro havia crescido apanhando dos meninos maiores na escola.
“Trabaia, vadio, trabaia se acha que vai ocê vai tê vida boa”, dizia o pai quase todo dia.
Odiava o pai, odiava trabalhar. Desde muito cedo, vendia picolé na rua, e mentia pra mãe ao entregar apenas uma parte do dinheiro que conseguia.

Do pai, recebia uma surra de socos por semana, fosse porque estava roubando frutas nas feiras, fosse porque o homem tivesse passado da conta na bebida. Da mãe, a comida pronta, a roupa lavada, alguma ajuda nas aulas de língua e literatura, puxões de cabelo, surras com vara de marmelo, gritos e choro.

A mãe gostava de ler, mas, o pai brigava com ela cada vez que a via com um livro na mão. “não tem mais o que fazê, não? Te dô o que fazê”, a mãe chorava escondido, e as vezes sacudia Pedro pelos cabelos para amenizar a raiva e a impotência que sentia.
Ao dar a luz, as complicações do parto levaram o medico a extrair-lhe o útero, optando pelo caminho mais fácil, e a mulher ficou com um único filho.

Em alguns momentos da infância, Pedro cometera o erro de perguntar por quê não tinha irmãos e irmãs. A resposta, nas três ocasiões, havia sido uma surra com vara de marmelo.

O adolescente estudava, os poucos livros que a mãe escondia o levaram à biblioteca pública, e aí devorava historias e mais historias. Algumas delas o convenceram de que devia reagir às injustiças que sofria na escola.

E reagiu.

Nas noites da vila, conheceu um grupo que se reunia para brigar entre si. Chegava em casa tarde, com os olhos roxos, com os lábios partidos, uma vez teve três dedos quebrados; “foi jogo sujo”, apontaram alguns do grupo, mas, não havia o que fazer depois que os ossos estalaram, dobrados pelos adversários.
A ele lhe havia caído bem o estar nos limites. Dentes e costelas passaram a depender de cuidados mais contínuos. Com sorte, nunca teve o pulmão perfurado.

Alguns meses e dentes depois, cada dia mais feio, Pedro se enfrentou a um dos que se divertia em persegui-lo. “Ehhh, fiote de papai!”, provocou. A surra foi tão tremenda, pública e notória que Pedro ganhou fama.

Meninas começaram a dar-lhe espaço. Mas, não queria saber de nenhuma. Só queria estudar, ler e brigar.
Foi ficando forte em sua magreza, se recusava a tomar qualquer anabolizante oferecido por algum amigo, tanto por teimosia e orgulhos, quanto por falta de dinheiro.
Há tempos havia deixado de buscar dinheiro em trabalhos temporários. Quando precisava, tomava de onde fosse mais simples e seguro, fosse o pai, fosse algum desavisado com a carteira mais à mão. Todavia não gostava de roubar.

O sabor do olhar que misturava medo e admiração que recebera ao dar a primeira surra na escola, lhe havia metido a vontade de ser o tal “alguém” que o pai queria. Mas, queria ser um alguém que pudesse continuar sentindo vida afora o prazer de pôr medo nos olhos alheios.

A escolha da profissão chegou por um caminho algo torto. Um dia, rondando um caixa automático, tentando descolar algum trocado, foi levado pela segurança. Andava roto, as vezes sujo, sem dentes. Muito suspeito.
Foi parar na delegacia. Serviu de saco de pancada a policiais e presos. Agüentou firme, não chorou, não reclamou. Apesar da idade, era um homem duro, com corpo curtido pela dor, pela fome e pelo medo. Tanto ler e pensar lhe haviam dado firmeza psicológica. “Dezesseis anos?”, ria o delegado, “ó, só não vai ser mulherzinha porque é muito feio...”

O soltaram logo, sem nenhum registro. Pisou na rua decidido: ia ser polícia.

Agora tinha os dentes recolocados, o cabelo bem cortado, a roupa e o rosto bem tratado favoreciam a beleza que a sujeira, a falta de dentes e cabeleireiro haviam escondido em sua infância e adolescência.
A altivez que transmitia nos olhos encantava e amedrontava as pessoas.

Nunca se havia casado, nunca havia tido um relacionamento de mais de duas semanas com nenhuma mulher. Nenhum amigo tampouco ousava sugerir, nem de brincadeira, que ele fosse homossexual. “mulher é fraca, e fraco pra mim é na ponta da chibata”, respondia quando alguém queria saber das companhias.

Até que foi obrigado a conhecê-la. “Mas, senhor, com a minha formação e experiência...”

16. De tudo que mais quero na vida

"Tava cansado, viajando o dia todo. Ha muito tempo que não viajava de caminhão, a delícia do vento no rosto somada à agonia de viajá tão incomodamente.

A carroceria tava cheia, não dava pra deitá, mal e mal sentado, e as câimbra me fizeram andá um poco, no que era possível.

Criançada com fome, e meus biscoito se foram. Que merda a guerra, sempre é merda. Com a cidade atingida tão cedo, uma fuga massiva de gente, principalmente mulher e criança.

Meu amor tinha razão. Ela tava ligada nas mobilização militar, mais de arma que de gente; bem verdade que as guerra de hoje, por inquanto, já podem prescindí de grandes exército. Os cara apertam um botão e bum! lá se vai uma cidade pelos ar. Pela TV, gente morta, corpo queimado, criança com fome, nada é chocante demais pra num sê feito, lá longe, só na TV.

Também, a dor e a miséria tão tão no dia-a-dia de todo mundo... chega a sê gozoso ver o sofrimento alheio. Finalmente, esse sofrimento chegô aqui...

“luta de classe, luta de classe”, ai que eu já me aborrecia com a repetição dela. E tava certa o tempo todo, como nossa organização.

Eu que sô um merda.

Por que eu disse que ela era uma egoísta? A cidade onde morei esses ano é uma boa cidade. Tá certo que me matei trabaiando pra pagá conta de aluguel, de transporte, de comida, contas que não me acrescentarum nada. Pelo contrário, foram anos de vida cada vez mais perdendo o sentido de ter vindo, me afastando da organização, que me ajudava a ter uma razão na vida.

Ela me levô de volta... me curô a dor de militante solitário, me recolocô na ativa. Me fez home. Colocô de novo a revolução na minha alma.

Eu que num vi isso. Espero que ela esteja bem...

Mas, a vida era boa... por que eu ia dexá uma relação que me garantia certo status nos círculo que eu gostava, pra sofrê com ela o malfado de classe trabalhadora?

Eu sô um merda mesmo... ó onde eu tava: a minha gente não tava nos lugar onde eu tava... merdamerdamerda. É preciso uma guerra desse tamanho pra eu dexá que essa idéia ficasse concreta.

Se a vida era boa, perto do que podia sê, por que eu ia trocá? O certo pelo duvidoso? Bem que o Marcuse dizia... a gente se amolda à maquina capitalista, tentando desfruta dos beneficio; quem se rebela, paga o preço: pobreza, insegurança...

Até onte eu tava lá, agarrado firme nas migaia, feliz “compartiando” do centro... idiota. Que vida besta eu tava levando.

Acho que era por isso que ela ficava tão distante de eu, as vezes. Tão bom vê ela dormindo... tão bom se ela tivesse aqui...

Meu céu é o corpo dela, macio, firme, forte. E nunca disse isso pra ela, burro, burro, burro.

Opa, barrera... melhor passá longe... uma pena dexá essa carona de tão boa hora...

Amada, quero tá contigo logo. To indo, sobrevive, amada minha!

Ai, meu tornozelo!!! Merda, merda, merda..."

quarta-feira, 19 de maio de 2010

15. Um lobo na história

"complicada e perfeitinha, você me apareceu..." cantarola Wolf, seguindo a mulher. Sente uma mistura de raiva e carinho; a conhece, e sabe que se saiu do porão, é porque realmente precisava.

As vezes não conseguia acompanhar seu raciocínio, mas, confiava na intuição ou razão dela. Tinha alguns anos a mais, e bastante experiência, e ainda assim, ele se sentia especial perto dela. Era uma ouvinte capaz de integrar todas as pessoas.

Há tempos, ela o havia supreendido, lhe dizendo sem rodeios que nutria sentimentos amorosos por ele. Nunca tinha imaginado que ela pudesse se interessar por ele, que então era quase um menino. Ele, preocupado com a imagem perante a família e amigos, lhe tinha proposto amizade, e casou-se com uma moça de seu círculo.

Continuaram amigos, e aprendeu muito. Seguiu a carreira universitária, e numa parceria divertida construiu com ela estratégias de despitar a polícia, nos tempos mais tranquilos. Nunca aparecia publicamente como vinculado aos movimentos, e ela e outros companheiros e companheiras haviam sofrido no lugar dele a repressão.
Muitas vezes lhe doía não poder se declarar público a que lugar político pertencia. Lhe custava manter a imagem de professor universitário neutro.
E muitas vezes ela o havia animado, com as avaliações dos resultados dessa prática. Ele era a pessoa mais livre do grupo, e podia dar suporte a todas e todos nos momentos mais críticos. Mais além, ele era a voz mais ouvida na opinião pública, justamente por não pertencer a nenhum grupo publicamente.

Um dia, na casa dela, se divertindo em construir pistas falsas, deu-se conta da paixão. Não sabia como nem por quê. Ela estava com suas velhas calças de moleton, grandes demais, que lhe caíam tão mal, com uma camiseta surrada, preparando petiscos, quando ele se percebeu desejando-a. Ela, tão desengonçada...

Quis abraçá-la, mas, reprimiu qualquer expressão. Nunca mais a olhou apenas como amiga, e os defeitos dela lhe pareceram ainda mais perdoáveis.

Até que John lhe contou, muito naturalmente, que ela e Lenoir haviam dormido juntos. Seu coração ficou meio paralizado, e começou a se arrepender de não ter tomado nenhuma atitude. "maldito Lenoir...", mas, era seu amigo.
Na madrugada anterior, ao receber o aviso dos ataques, pois que não estava sob vigilancia como os demais e seu telefone funcionava, o primeiro pensamento era se ela estava livre e viva. Decidiu na hora que se declararia a ela, a beijaria, viveria com ela até morrer, custasse o que custasse. Desejou ir ao encontro dela, mas, sabia que era impossível.
Quando ouviu a voz dela na porta do porão, não pensou se Clara alí estava ou não: a tomou nos braços e lhe despejou tudo que sentia. E ela lhe perguntara por Lenoir...

Agora a seguia, querendo protegê-la. Percebeu que o parque estava vigiado. Ou iriam prendê-la, ou iriam segui-la. Decidiu arriscar: ou iriam deixá-lo ir, acreditando em sua história, ou iriam prendê-lo, e tentaria descobrir quem mais estava preso, aproveitando a vantagem de sua posição social para comunicar com os de fora.

Passa por ela, sussurra que fique quieta, e corre pela rua. Ignora os gritos dos soldados, tentando atraí-los para si. Não imaginava que iriam atirar tão cedo; ouve o estampido ao mesmo tempo que sente a dor, vai ao chão, tenta se levantar, "fique onde está, querida...", logo é cercado, três soldados o espancam enquanto perguntam coisas que ele não entende. É levantado e consegue caminhar entre o grupo fardado, tentando ver o que se passava com ela.

14. Um final de noite

Encolhida no esconderijo, ela pensa se deve se expor. Conhece Wolf, sabe que ele teria motivos pra dizer-lhe que não saísse de onde estava. E, motivos políticos, ademais do amor que tinha por ela.
Observa os soldados o levantando do solo com violência, não sabe se ele está ferido, se sente culpada.  Uma concentração de soldados, correria, e o vulto de Wolf desaparece de suas vistas.

Mantendo-se na sombra, salta a cerca do parque, recolhe Tornado e se dirige à direção oposta, ganhando a madrugada. O choro volta, pensando no ato de Wolf.

Por perto, uma figura sorri satisfeita. O agente intuiu que o homem correndo na rua podia ser uma cortina de fumaça. Mas, isso não encaixava no conjunto. "melhor pra mim". Ele conhecia o professor que os soldados haviam detido, já o vira com ela, sabia em que universidade e departamento dava aulas, suas linhas de pesquisa, "inofensivo". Sabia também do amor que ele tinha; as conversas entre a mulher e Wolf estavam gravadas.

Há muito tempo, ela havia se interessado por Wolf, e se declarado a ele. Mas, ele optou por casar-se com uma antiga colega sua, seguindo a carreira universitária. Ela, de coração partido, achou que nunca mais iria encontrar outro homem que amasse, como amava Wolf; foram meses chorando escondido, mantendo a altivez.
Ele era mais novo que ela alguns anos, mas, o contato da experiencia dela com sua inteligencia havia ajudado a que se tornasse uma das referências em termos políticos. Ele a admirava, nada mais. Se sentia grato por tê-la como amiga.
"como o tempo muda as coisas...", pensa Pedro, enquanto a segue, ela que vai devagar levando o cavalo pelas sombras.

Seguidor e seguida se afastam do centro da cidade, até um antigo haras, transformado em espaço de lazer da média burguesia urbana. Era um espaço bastante ocupado, com muitas casas rodeando o oásis rural da metrópole; ultimamente, andava em decadência, com poucos e feios cavalos, e quase nenhum humano. Alí ela deixa Tornado.

Os pensamentos de Pedro se concentram em tentar entender o que se passa. O professor se sacrifica, para que ela possa resgatar um cavalo? O que o professor fazia lá? Havia estado com ela, durante o tempo que tinha perdido seu rastro? Não lhe havia ocorrido que ela o procurasse... ela não iria à casa de Wolf. Onde se encontraram, então? Ou não era nada disso, e apenas uma coincidencia? Mas, por que o professor corria?

Já é a hora mais escura da noite, o anúncio de que o dia não tarda. Os dois retomam o caminho do centro, ela segue para a casa de uma amiga, com a cabeça baixa, atenta e escolhendo bem as ruas.
Depois de uma hora de caminhada, já a escuridão começa a ser quebrada. Pedro sente os pés doendo, a cabeça também, precisa de café. Ela toca o interfone e sobe. Ele chama o parceiro para retomar a campana

segunda-feira, 17 de maio de 2010

13. De uma viagem empreendida

Saindo do edifício, deixa pra trás todas as dores dos últimos anos.
Corre à estação, "um billete no proximo trem para..."
"Não há trem, moço, só amanhã"

Um leve desespero lhe entra no coração. A cidade está em pânico. Tenta em cada telefone público algum sinal, mas, nada, nada funciona. Há dias o celular está cortado por falta de pagamento.

Resoluto, caminha para a rodovia, na esperança de uma carona. Depois de duas horas de caminhada, um caminhã pára, está cheio de pessoas na carroceria.
Feliz, joga a mochila e salta, acomodando-se no assoalho.

"Vai pra onde?" "Quero ir pro sul..." "Tem familia lá?" "Sim..."
Se reconforta por ter ligado na noite anterior. A voz dela, decidida, está na memória.
No último encontro, lhe havia dito coisas que não queria dizer. Achava que precisava se afastar, queria de certa forma provar a si mesmo que tipo de sentimento tinha por aquela mulher. A dor que sentira ao não beijar-lhe a boca na despedida dizia tudo. A desejava, tanto quanto a revolução. Precisava dela, tanto quanto lutar todos os dias da vida.

Mas, não se atrevia a dizer-lhe. E se ela não correspondesse? Uma coisa eram as brincadeiras de escrever no caderninho "a ser entregue", outra, era falar sério com ela.
A liberdade, a independencia, a firmeza com que ela se movia no mundo, o assustavam. Tinha medo de se declarar, de lhe dizer em palavras de todo o amor que sentia, e ser rechaçado.

Agora seguia em um caminhão, com pouca comida, com quase nada de dinheiro, tentando chegar onde ela estava. "E se aconteceu algo com ela?..." O coração se aperta, a saudade e a falta fazem brotar uma lágrima.

O caminhão, já quase lotado, era um dos meios dos deslocamentos em massa que começaram. As pessoas das cidades atacadas fugiam pro campo, pras cidades pequenas, pois sabiam que as grandes cidades era alvos certos.
No caminho, mais algumas pessoas foram alçadas á carroceria. Uma poeira cobria todas e todos, e compartiam o assoalho e o vento no rosto.

Ele fecha os olhos, apóia a cabeça nos joelhos, lembra da boca dela. O sol que já começa a aquecer, traz lembranças gostosas de horas de lagartear. Refugiando-se no pensamento do carinho dela, ele entra num estado de semidormência, despertando de vez em quando a olhar onde estão.
O motorista vai tomando estradas secundárias, e aumentando o pó sobre o grupo. As horas trazem fome, e algumas pessoas mordem algum alimento, e partilham água.

As cãimbras o fizeram viajar as vezes de pé, as vezes tentando caminhar entre as pessoas, as vezes voltando a sentar-se. Várias mulheres com crianças, e umas crianças com olhos de fome; todos os biscoitos que tinha acabaram distribuídos. Quando o sol ia se pondo, bebe a cerveja quente, "se ela estivesse aqui, iríamos rir, apesar de tudo...", a capacidade que ela tinha de cultivar a alegria lhe encantava, as vezes mudava de humor de repente, mas, ainda de momentos de raiva ou tristeza, ela sacava um sorriso.

Quando a noite caía, os viajantes dormindo apoiados uns nos outros, o caminhão enfim foi parado numa barreira. Ao ver a marcha sendo reduzida, e as luzes adiante, com vários soldados, ele salta do caminhão, ainda em movimento, e corre o mais abaixado que pode em direção ao mato na margem da estrada. O capim lhe corta os braços, enquanto tenta passar despercebido.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

12. Mientras tanto...

Mal a sirene começou a apitar, as explosões já se fizeram sentir. Era madrugada, ele senta na cama, sem entender se sonha ou é realidade.
Mais explosões ao longe, sente um leve tremor.

Poucos segundos e entende. "Mas, já?"
Sua amada estava certa, pega o telefone fixo para avisá-la, mas, a linha está muda.

Ha dias, conversando com a amada, estavam especulando sobre essa possibilidade. Ela tinha razão quando dizia que a corrida nuclear, com Brasil, China e India liderando um bloco, logo seria motivo de ações "não diplomáticas" por parte de EUA, e a reboque, União Europeia.

A mulher também acorda, assustada. "Que tá acontecendo?" "Não sei".

Não quer olhar para ela. Não suporta. Automaticamente, se veste, pega a mochila já meio pronta por tantas viagens, pega documentos, a máquina fotografica ("não esquece a máquina", o pedido de sempre), blocos, caderno, computador. Na cozinha, alguns biscoitos, a ultima lata de cerveja.
A mulher o segue, começando a chorar "O que você vai fazer?", não responde.
No pequeno escritório, pega o livro de comics que ela lhe havia presenteado, com uma figura dos dois na capa; uma sombra de sorriso aparece, "espirituosa..." pensa, com saudades. Que estaria ela fazendo? Precisa dar um jeito de ligar pra ela.
"Por que você vai levar esse livro? Por que a máquina de foto? Você nem gosta de fotografar... Onde você vai? Por que não espera amanhecer? Que tá acontecendo?"
Ele responderia todas essas perguntas, pois são lógicas; mas, nao tem mais espaço, não tem mais paciência, não tem mais nada. Só quer sair dalí o mais rápido possível.

"Você tá me deixando?"
Ele a olha, já sem mágoa, com total indiferença. "Não. Nós já nos deixamos a muito tempo, só estou, enfim, conseguindo fazer o que nós dois queremos que seja feito."
"Eu não quero que você vá" ela grita.
"Você quer; no fundo, você sabe que é infeliz comigo, como eu sou contigo."
"Você tem outra!!"
"Não. Só tenho uma mulher, e não é você."
"Eu te amo..."
"Você nem mesmo se ama..."
A mulher tenta abraçá-lo, ele se livra dela, e pra não vê-la prostrada no solo, vai ao banheiro. Tranca a porta, se olha no espelho. "Vai imbecil, sai logo..."

A mulher respira fundo, pensando como agir. Sabia que esse dia chegaria, e o estava evitando a muito tempo, sempre com sucesso. Não podia admitir que seu pai estava certo. Busca na memória o que, em outros momentos, havia tido efeito em fazê-lo ficar.
Quando o homem sai do banheiro, se aproxima o mais carinhosamente que pode, "Lenoir, fica..."

Ele a olha, entre surpreso e enojado, "não me chame assim, eu não sou Lenoir".

Resolutamente, pega um pão seco, a mochila, e sai mastigando, ouvindo os gritos atrás de si.

Na rua, a pena que sente da mulher que fica logo é suplantada pelos ruídos das baterias. Tropas se deslocam, a sirene de alerta, pessoas correndo. Dois segundos pra decidir como fazer o que deseja a muito tempo, "amada, esteja bem. Estou indo, me espere..."

11. Dos acontecimentos no parque

Ela observa o entorno, sente o ar, ouve, salta o muro e ganha a rua.
Wolf faz o mesmo processo, e muitos metros atrás, a segue.

Mão nos bolsos, uma touca prende os cabelos, caminha pela sombra que as árvores projetam, observando com cuidado.

Estranhamente, não há soldados à vista, e o toque de recolher já dispersara os poucos transeuntes

Depois de 20 minutos de caminhada rápida, pula uma cerca, e adentra um bosque correndo. Poucos minutos, e a respiração está ofegante. Senta na relva, apóia a cabeça sobre os joelhos e chora.


"meu amor, me manda notícias...", todos os problemas se tornam pequenos, e ela se sente idiota. Lembra o último abraço, quando ele lhe beijou o rosto, evitando a boca. A discussão que haviam tido, "não sei o que sinto por você...", "preciso de um tempo...", as frases que ele havia dito ressoam na memória.
Ela não havia respondido. Não via sentido em brigar, não tinha como influir nas decisões dele. Sabia que o amava, mas, sabia também que amor nao se pede, e não ia dizer nada. Que ele fizesse o que lhe parecesse melhor.

"fique sem mim, mas fique vivo, fique bem..." ela pensa agora, deixando as lágrimas, tantas horas contidas, correrem pelo rosto. Um soluço sacode o corpo, e Wolf, escondido na sombra, percebe como ela chora.

Sabe que tarefa principal lhe cabe: encontrar Lenoir, fazer ele chegar salvo em outro lugar. Se a tarefa veio, é porque não se imagina que ele não esteja vivo! Reanimada, ela se põe em pé de um salto, corre até a cerca do outro lado, e segue por outra rua.

Se aproximando do parque onde havia deixado Tornado, reduz o passo, olhando atentamente. Tudo calmo, tudo vazio. Mantém-se oculta na sombra e espera.

Wolf, também escondido, de outro ângulo percebe os soldados vigiando. Compreende a emboscada e sem pensar muito, sai da sombra e avança pela rua.
Passando por onde ela está, diz o mais sussurrado que pode "não saia daí, por nada!"
Ela não tem tempo de responder, e Wolf já está correndo pela rua, se afastando.

Dois soldados dão o alarme, e a angústia toma conta dela, "não, não, Wolf, não..."
"Páre!", gritam os soldados, precipitando-se para onde Wolf corria. Ela ouve um estampido.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

10. De como usar as anotações

Como uma criança diante do doce favorito, ele abre a sacola plástica, tocando com cuidado cada papel e separando por tamanho e por tipo.
Dois cadernos pequenos, um caderno universitário, várias folhas sulfite. Anotações a lápiz. Algumas folhas impressas. Três textos grampeados.
Tudo separado na escrivaninha, ele demora uns minutos, saboreando, antes de decidir por onde começar.
"isso vai me render uma promoção..."

No tempo que estava seguindo ela, nunca tinha conseguido tamanho prêmio. As conversas gravadas na casa e no trabalho, os dias que estivera comprando livros, o acompanhando a muitas partes, o controle das mensagens eletrônicas, nada parecia ser tão bom como ela ter entregue aquele material assim.
"Ela deve ter se assustado, e cometeu um erro..."

A noite já havia caído, e a adrenalina o mantinha acordado, junto a altas doses de café. Era a segunda noite sem dormir.
Primeira prioridade: recuperar o controle sobre os passos da mulher.

Começa pelos cadernos pequenos. Anotações de alguma aula, geopolítica, cultura, nada de interessante. Abandona o primeiro.
O segundo parece mais promissor. Nos cantos das folhas, conversas dela com alguém, "Que letras feias... parecem competir pra ver quem escreve pior..." trocas de juras de amor, "quanta baboseira... liberdade... leveza... idiotas"
Abandona o caderno. Pega as folhas com anotações a lápiz. A letra muidinha e mais compreensível chama a atenção. "Bingo!"
Anotações de uma reunião. 17 de Abril, ações na rua, ... Outras reuniões mais. Perdidos em vários lugares, telefones, alguns endereços, duas folhas com mapas toscos rabiscados.

Ele separa as informações, faz uma lista de lugares, nomes e telefones que apareceram. "Agora te pego, e te pego mesmo! Você, aquele pequeno que te encontra, e todo o bando..."

Animado, termina de revisar os materiais, volta várias vezes aos dois pequenos cadernos, buscando códigos, mas, não encontra outra coisa que não o explícito. "Que se pode esperar de alguém que escreve esse tipo de coisa, e ainda joga tudo assim, no lixo? Tolinha..."

Em algum lugar de sua mente, algo lhe diz que não é bem assim, que aluma coisa não se encaixa. Ele não dá ouvidos, o lógico é que a moça não teve fortaleza emocional para cuidar dos próprios materiais, e ele tinha o dever de usar isso na defesa de seu país.
"Da OTAN, idiota, da Monsanto, da Syngenta, da Stora Enzo, da...", diz a si mesmo.

O telefone toca.
"Senhor, achamos o cavalo..."
"Que ninguém se aproxime dele!!"

Ele pega a arma, com um sorriso feroz, sai ao encontro de Tornado.

domingo, 9 de maio de 2010

9. Do fim do primeiro dia, a primeira noite

"Eu cheguei aqui primeiro, conseguiram me ligar do Brasil no primeiro sinal, e pude avisar alguns"
"Parece que vários estão desaparecidos, devem estar presos"
Estão em nove no porão. Um tempo atrás, quando a repressão foi aumentando, escolheram aquele lugar pra emergencias. Ninguém imaginava que seria tão cedo. Entre poucos amigos, membros de diversas organizações, definiram uma senha, e meio na brincadeira, estocaram água e comida.

Do grupo de amigos mais próximos, faltavam John, Guillermo e Mario.

"Estados Unidos e quase toda Europa começaram. Atacaram China, Brasil e India. Tiveram o fogo respondido instantaneamente..."

Ouvem o radinho, olhando o mapa mundi na parede. Hu Jintao, Lula, Chavez, Morales e outros estavam se coordenando. Diziam que Fidel estava vivo, mas, Cuba estava arrasada; o povo cubano estava contendo uma invasão casa a casa, e tinham cobertura das tropas brasileiras e venezuelanas. Haiti era o ponto de apoio, totalmente dominado por Brasil.
Várias cidades dos EUA, de Inglaterra e França tinham sido atingidas.
"E o radio amador?"
"Alvaro está montando"

"Tarefas?"
"Equipes, vamos nos dividir. Temos que montar a comunicação, segurança, finanças, documentos, armas, comida, água, busca dos desaparecidos, situação nos bairros, coordenação com a Internacional..."
"Coordenação?"
"Duas vezes por dia, aqui, enquanto for seguro"
"Alguém centraliza as informações..."
"Isso é perigoso..."
"Querem acabar com a gente..."
"Vamo comê eles por dentro"
Todos e todas de acordo, dividem as tarefas. Algumas ficam pendentes, pouca gente.

Ela estuda o mapa da cidade, faz anotações. Saudades do amado, a falta de noticias da família, os ataques a tantas cidades... bebe água, e se concentra.
"Conexão com Brasil!", avisa o operador do radio. Todos e todas ficam em silêncio. Ela sai da sala, Wolf a segue.
"Precisamos conversar..."
"Agora não"
Um companheiro assoma na porta, "vocês podem voltar? Passaram orientações"

"Você" o radioamador aponta pra ela "ir pra ... o mais rápido possível. Deve encontrar antes com outra pessoa, que você saberia que é, e seguirem juntos." Ela sabe com quem deve se encontrar... Lenoir, se ainda estiver vivo.
"Todos nós: organizar a resistencia em todos os lugares, manter os postos de comunicação, atacar pontos estratégicos em cada lugar..."

A noite chega e avança, ela lembra que precisa comer.
A saudade é forte, sente a falta física de Lenoir, quer ficar um momento só.
"Compas, preciso ir, ver o cavalo".
"É perigoso, você não vai", Wolf segura o braço dela.
"Já estou indo, até logo"
Ele a olha nos olhos, "Não é hora de ser criança... leve a arma então"
"A arma é mais necessária aqui"
Ela dá um sorriso, pega apenas a identificação e sai.
Ele fecha a cara, e sai uns minutos depois.

8. Da tarefa de encontrar o grupo

"Não é difícil perceber uma mulher com uma mochila grande, num cavalo, roubado ainda por cima, porra!" berra o agente que a perdera na autoestrada.
Por rádio, informa que já não a pode seguir, e dá as indicações para quem está na cidade. "idiotas... uma mulher, num cavalo, no meio da cidade!"

Mais tarde, junta-se aos colegas e começa o relatório. Ouve a conversa ao lado,
"Cuba já era..."
"Claro, primeiro alvo, acha que o MacCain ia deixar barato?"
"É, mas a China cobrou caro..."
"Será que irão nos convocar pra campo?"
"Certamente. Depois da convocatória de hoje, vamos todos. E, depois de Zaragoza..."
"Acho que Zaragoza vai demorar uns dias... antes, tem o pentágono pros chino tentar acabar"
"E você acha que alguém esqueceu que nós mandamos tropas pro Iraque? Vão querer nos arrancar a pele"
"Que nada, até lá já acabamos com eles"

"Já acabamos com o mundo..." pensa amargurado o vigilante.
Vai até a sala de TV, serve café, aumenta o volume do som.
Bombas em Cuba. Uma bomba atômica no Brasil, duas na China. Misseis nas duas costas dos Estados Unidos.
Parecia que todo mundo só estava esperando um sinal pra disparar suas cargas.
A luta pelo controle dos satélites. As explosões no céu.
Centenas de milhares de civis mortos.
Quase nada lembrava as outras guerras mundiais. Poucas horas, e uma destruição incontável. Genebra na lata de lixo.

Precisa reencontrar a mulher. "Onde você iria, diaba?" Ela não tinha se dirigido pra nenhum dos lugares previstos.
Termina ansioso o que precisa escrever, pega arma, mapa, lista de endereços, e sai. Quer examinar sozinho e com cuidado o material que ela tinha jogado no lixo.

Segue pro local de interrogatórios. "Alguém cantou?" "Nada..."
Entra no corredor de celas, chega em frente a John, olha o rosto inchado, as mãos feridas, sangue secando na camisa, um olho fechado. Sorri satisfeito. "Logo te pego, comunistinha..."

7. De como se burla a vigilância

O exército na rua, algumas pessoas sendo acompanhadas a delegacias, um intento de manter vida normal. O cavalo, que ela nominou Tornado, vai caminhando devagar, tloc, tloc, tloc no asfalto, chamando a atenção.
Os pequenos mercados tinham concentração de gente. Os grandes, fechados, pois que os trabalhadores estavam sem transporte público. Aguns postos de combustivel com movimento.

Mas, sem pânico, tudo muito ordenado, sob a mira de fuzis.

"deusadeusterra, cuida do meu amado...", o coração se derrama em preocupação.

Segue para o Patio, imaginando o que irá encontrar.
De fato: milicos, portas escancaradas. "pobre gente..."

Sabe pra onde ir. Dá voltas pela cidade, evitando os lugares mais característico da esquerda. Quando se sente segura, vai ao local mais secreto.

Deixa Tornado solto num pequeno parque com um chafariz. Alonga o corpo, sentindo dores nas articulações das pernas, pelo tempo que levava sem montar. A bunda está dolorida. Pula a cerca, evitando os portões; põe o cabelo embaixo do chapeuzinho, deixa 'tapeado' nos olhos, e caminha resolutamente, tentando dominar as dores.

Chega no endereço, observa qualquer irregularidade, aguarda uma longa meia hora escondida. Sentindo-se tranquila, corre, salta o muro e desce para o porão.
Sibila a senha, e Clara abre a porta.

As duas caem nos braços uma da outra. Clara chora compulsivamente "John não chegou..."; ela estreita a amiga em seu abraço e lhe beija a face, "vamos encontrar ele", responde, tentando pôr firmeza na voz.

Não percebe de onde vem o abraço, só sente quando está quase sufocada por Wolf, que a beija nos olhos, no rosto, na boca. Clara, com olhar de confirmação de suspeitas, sai da sala. Ela retribui o abraço.
"Wolf..."
"Me perdoa...me perdoa..."
"Wolf..."
"Sou um idiota... me perdoa que nunca tenha feito isso... e agora..."
"Te perdôo, não tem de quê, mas te perdôo. Quem mais tá aqui? Que notícias temos?"
"Tem mais gente. Antes de nos reunimos com todos... tô feliz que você está viva e aqui, ia morrer se te perdesse assim..." Ele vai se recompondo.
"E Joana?"
"Ficou em casa. Não entende o que tá acontecendo. Brigamos desde que chegou a primeira noticia, e saí definitivamente de casa; se for pra morrer, que seja com quem comparto meus sonhos..."
"Noticias de Lenoir?"
Uma sombra passa nos olhos de Wolf, "Não..."

Trocam outro abraço apertado, quando outras pessoas vão entrando na salinha, querendo abraçá-la.
Sorrisos nervosos, lágrimas, e o radinho a pilha vai dando as notícias.
"Esteja bem meu amor..." ela tenta pôr ordem nos pensamentos e firmeza nos olhos, enquanto o coração, escondido, chora.

Parêntesis

"os ventos do norte não movem moinhos"

sábado, 8 de maio de 2010

6. Do homem que segue em seu trabalho

Ela sai da porta já começando a pedalar, e ele se sobressalta, correndo até o carro.

Devagar, vai antecipando as ruas que ela toma. Pára na lixeira e recolhe o pacote. "muito obrigado, moça, tolinha".

Ele sabe pra onde ela vai. O telefone dela está bloqueado. As detenções já haviam começado, John foi dos primeiros, pego quando voltava pra casa na madrugada. Alguns estavam livres ainda, porque tinham acesso a outros, ainda desconhecidos. Ele sabia que era só uma questão de tempo até pegarem todos os vermelhos, "e as vermelhas..." pensa ele, fazendo uma caricatura da voz da mulher que estava seguindo.

Olha ela sendo parada na primeira barreira, "não façam bobagem, idiotas". Aliviado, assiste ela seguir com a bicicleta.
Quando lhe fora dada a tarefa de seguir uma mulher, se sentira despreciado. "com minha formação e minha experiencia, com todo respeito, senhor..."

Com o tempo, foi se acostumando a idéia, e conhecendo a moça. Havia estudado seus prontuários médicos, seus históricos acadêmicos, todas as atividades subversivas que ela já tinha feito na vida. Mas, ultimamente ela estava na dela, "aparentemente...", não esquecia a reprimenda que havia recebido, por não dar muita importância ao homem que a vinha encontrando.

"idiota! você acha que é só ela que queremos?"
"senhor, não..."
O rapaz vinha, eles iam ao cinema, ao mercado, ao bar, ... ele até buscou a ficha do cara, mas, era só um artista mal empregado... ledo engano.
As conversas dos dois eram tão idotas como as de quaisquer outros enamorados: Nietzsche, Goethe, Vinicius, filmes, palavras melosas... as vezes, ouvia atentamente quando faziam amor, e fechava os olhos, imaginando ela...
Isso ele nunca revelou a ninguém, sabia que seria afastado se houvesse a mínima suspeita.

Chegou à compreensão de quem eram os dois. Mas, o homem sempre lhe escapava. Quando ela o acompanhava ao aeroporto, ao terminal, aonde fosse, dava um jeito de que ele desaparecesse das vistas do vigilante.
Começou a odiar o homem. Olhava os dois rindo pela rua, e tinha ganas de humilhar ele, "vou quebrar o teu pescoço, fdp". Agora, esse sonho poderia se tornar realidade. Só precisava que ela se encontrasse com ele, e poderia intervenir.

Estranha quando a mulher abandona a bicicleta, pula a cerca e segue a pé pelo campo. Reduz ainda mais a marcha do carro, e observa. Vê ela com o cavalo; pelo retrovisor, vê os dois saltando a cerca.
"mas que porra é essa..." Isso ele não tinha previsto.

Ela passa a galope, lhe lança um olhar triunfante, e segue o caminho, o cabelo abanando ao vento. "maldição"...

5. De como um parente do Jimbo entra na história

Abandonando a bicicleta, cruza a cerca e caminha pela pastagem.
"será que tem alguém vigiando?"

Se aproxima dos cavalos devagar, dá umas voltas, olha detidamente, escolhendo e acostumando os animais com sua presença. Ha quantos tempo não faz isso? Tenta manter a segurança, e não demonstrar medo, arranca um punhado de relva e se aproxima do cavalo escolhido.
Sussurra "che, bichinho, che, bichinho...venga, guapo, vem comigo..."

O animal fareja a mão estendida, recusa a relva, mas, não se afasta. Ela se aproxima mais, toca o pescoço do bichão, e passa a corda, gentilmente. Faz um carinho, encosta a cabeça na mandíbula, conversa.
"como é teu nome? Gosta de passear?"
Mete os dedos na boca, abrindo caminho pra corda que vai servir de freio. Ele balança a cabeça, mas, aceita. "lindo, lindo, caballo..."
Faz da jaqueta e manta seus pelegos e em dois tempos salta pro lombo. Dá umas voltas, experimenta os andares, "que tal, caballito, sabe marchar?". Os outros cavalos olham, e seguem comendo pacificamente.

Conduzindo a marcha, ela segue pelo meio da pastagem, buscando como cruzar a cerca. Um portão, fechado. "Saltar... você, salta, guapo?" É um risco, mas, tem pressa. Ensaia duas vezes a carreira, testa o animal, e arremete contra a cerca.

Feliz com a resposta do cavalo, uma alegria infantil toma conta, somada à adrenalina. A antiga criança toma posse do corpo, "IIIIIIIIIIHHHAAAAAAAAA,  adelante, Tornadooo!!!!!!!!!!!", berra a mulher, chamando a atenção de uns motoristas que olhavam as evoluções desde a pista, "upa, upa, upa caballooooooo!!!!!!"
Começa a cantar baixinho, "rump, rump, rump, pouco me importa la suerteeeee, se o tempo é feio, se é vida ou morte na sorte monto sem freio, até minha sombra se assustou e hoje não veio, qualquer cavalo é cavalo quando chego num rodeio... rump, rump, rump..."

Rumo ao centro da cidade, ultrapassando os veículos que iam lentos por causa das barreiras, ela ainda vê dentro de um carro o rapaz que se aproximara dela no metrô, que acompanha com olhar desolado os cabelos esvoaçantes da amazona.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

4. De como sair de casa na emergencia

"Diabos", o coração bate forte, quase saindo pela boca, quando ela abre a porta com ruído.

Pega a mochila, camisetas, calcinhas, meias, absorvente. Calça o tênis mais velho e confortável. Computador, documentos, fotos (o presente de Bu, com a seleção de fotos deles), todo o pouco dinheiro que tinha. Cadernos e anotações são enfiados de qualquer modo em uma sacola plástica.
Na cozinha, frutas, biscoitos, enlatados, amendoas, duas garrafas de água, uma corda, isqueiro, fósforo, lanterna. Abridor de garrafa e de lata. A faca já estava na mochila, pois tentava nunca se separar dela.

Os ouvidos atentos, o alto-faltante da polícia continua ressonando a um volume agradável. "É guerra..."

Volta ao quarto. Olha os livros, penalizada. Pega as correntinhas recebidas da irmã e da segunda mãe, mais o anel do amado. Agasalhos. A manta. O cachecol que Lenoir havia deixado na última visita. Bloco de anotações, canetas.

Coloca o chapeuzinho, olha a casa, em um sorriso guarda as lembranças dos muitos dias em que Lenoir, aparentemente franzino, a havia levantado nos braços com uma força surpreendente. Fecha os olhos um segundo, revivendo as expressões de amor dele, saboreia as lembranças, o abraço, a boca e a barba roçando sua nuca, "é importante saber fazer comidas pra depois...", cozinhar a quatro mãos, esticar as pernas no sofá, dividir a cerveja, os sonhos, a preocupação, as alegrias... ele havia ligado na noite anterior, e ela se arrepende de não ter feito uma declaração... se arrepende de não ter enviado os e-mails amorosos que orgulhosamente ficou guardando na caixa de rascunhos. Como estaria Lenoir?
"deus, se existe, cuida dele... deusdeusaterra... alguém..."

Escreve um recado, por se acaso tudo não passe de um equívoco. Pega a bicicleta da amiga, bate a porta e sai. Sabe que há um campo a atravessar, e tem esperança que os cavalos estejam aí, como tinha visto durante os muitos dias que passou de trem ao lado do campo.

Nas ruas, mais calma, alguns soldados do exercito patrulham. Alguma concentração nos mercados, e a energia eletrica voltando aos quarteirões. O céu continuava com uma estranha cor.
Tentando disfarçar, atira a sacola com cadernos em um lixeiro de orgânicos.

Pouco antes de chegar na autoestrada, uma barreira. Ela abre o sorriso, cumprimenta o soldado. "Onde vai, guapa?", "Marquei com meu pai um passeio...", "onde?", "alí por El Escorial", "devias ficar em casa", "pois é, é que meu velho está meio estressado, e se não fizermos o que tínhamos planejado, pode surtar de vez", "seus documentos?", ela entrega, ele olha, chama um colega, vai ao veículo. O coração dela se desritima, controla a respiração, mantém o sorriso.

O milico volta, "vai com cuidado", "obrigada, oficial. Mas, tá tudo bem, né?", "tá, tá tudo bem, vai com cuidado".

"Que pena, que pena...", pensa o soldado ao ver a mulher pedalar a toda velocidade, se afastando.

Atrás dela vem um carro, devagar, o homem mostra uma identificação, e passa na barreira.

Não havia pedalado muito, e já não respirava direito. "Diabo, diabo, diabo...", o corpo cobra a fatura de tantas pneumonias, bronquite, e outros problemas respiratórios da infancia e adolescencia. A capacidade pulmonar foi diminuindo, pressionada pelos pezinhos na água fria e a cabeça no sol quente, quando era uma menininha de 9 anos, lavando roupa no rio; antes e depois, tanto andar na chuva e a roupa secar no corpo, pés descalços na lama, titiritando de frio nos invernos rigorosos, com os pés vermelhos em chinelos havaianas, indo tomar o ônibus escolar as 06 da manhã...

A estrada tem algum movimento. A adrenalina impulsiona o pedalar, quando os cavalos surgem à vista.

3. De como um homem faz seu trabalho

"Droga!", pensa enquanto olha ela se afastando.
Nota como a bunda da mulher se desenha sob a calça jeans, tem vontade de tocá-la. Uma bunda pequena, "bonita", conclui ele.

De novo vai segui-la, vai se postar no bar perto da casa dela, e ficar olhando. "Uma hora te pego, comunistinha..."

Estava cansado. Passara a noite acordado, ouvindo as últimas noticias e logo a preleção do comandante. Sabia que havia diversos grupos como o seu, com tarefas parecidas, já que havia muitos vermelhos na região.

Tinha pressentido que alguma coisa grande ia acontecer, pois recebera ordens de aumentar a vigilância. Agora dividia com outro a tarefa de vigiar a mulher 24 horas. Aparentemente, não havia muito que fazer.

Quando chegaram as primeiras noticias dos ataques, ficou eufórico. Já passava da hora de tomar uma atitude. Agora, suas tarefas estavam mais abertas, com a declação da guerra, pelo menos dentro da corporação seu trabalho estava relativamente aberto e aceito.

Observou a mulher caminhando apressada, o vento brincando com o cabelo dela, a postura ereta e o passo firme, embora as vezes como que pisava em falso, "o joelho...", ele sabia o motivo, o velho ferimento do joelho dela.
Foi caminhando atrás, tomou outro caminho, sentou-se no posto de sempre quase em frente à casa dela, abriu o jornal, e esperou.

Sabia que ela ia sair a qualquer momento.

2. Sobre como sair de casa e voltar logo

Pela rua, movimento. Alguns soldados armados, e ela apressa o passo até o metrô.

Lá, pessoas desorientadas, alguns soldados da guarda civil mandam todo mundo pra casa.
- Hoje não há metrô, amanhã tudo volta ao normal, fiquem em casa e fiquem tranquilos, não entrem em pânico.

Ela tenta ordenar os pensamentos. Um moço de aproxima:
- Que que houve?
- Não sei... responde, meio sem gosto.
- Ei, eu te conheço!
Ela olha o rapaz, sem idéia de quem seja.
- Você me vendeu um livro semana passada...
- Ahhh, faz ela. Espero que tenha gostado.
- Gostei, gostei... ele a olha interessado.
- Do livro, eu tô falando.
- Ahhh, também gostei, é o Cem Anos de Solidão...
"Que maludo!", pensa, "essa história sem explicação na cidade, e o cara pensando na livreira?"
- Vou indo, curta o livro, que o autor é bom.
- Ei, posso te acompanhar? Já que não tem metrô... pra onde você vai? Onde você mora?
- Não, obrigada, tenho muita pressa, desculpe. Tchau.

No caminho de volta, cruza com um carro da polícia. O alto falante anuncia:
- Fiquem em suas casas. Em breve serão restabelecidos os serviços de eletricidade e gás. Acompanhem as notícias pela televisão e rádio...
Filas começam a se formar nos pequenos mercados.

Ela pega o celular para chamar John, mas, sem sinal, desabala uma corrida até a casa, enquanto constrói a idéia do que fazer em seguida.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

1. De quando começou

O dia mal tinha começado, ainda sem claridade, quando a guerra chegou.
Ninguém sabia de nada.

Ela acordou, achando que era muito cedo, pois não ouvia o arrulho dos passarinhos. Pra continuar dormindo tranquila, olhou o relógio e se espantou, 06:30!! hora de saltar da cama.

Mas, o silêncio era inquietante.

Abriu a persiana, céu escuro, "chuva", pensa ela, mas, sem o cheiro e a sensação tão familiar de quando a chuva estava chegando, começa a duvidar de seus sentidos. "Parece que vem chuva, mas, cadê a sensação de chuva...?"

O coração se sobressalta, com um fiozinho de medo.

Tenta acender a luz, mas, não há eletricidade. "hum? humm..."

Arruma a cama automaticamente; se envolve na toalha e vai à cozinha, aquecer água pro mate e acender a caldeira pro banho. Ainda há gás, e na chama do fogão acende a vela.
No meio do banho a água se torna fria, mas, pelo menos o mate já está pronto.

"A ver as notícias...", mas, não há sinal de internet, e a bateria do computador não durará mais que duas horas. "será uma pane geral?" Espia pela janela, apreensiva. Deixa-se estar uns minutos na sacada, buscando informação nos odores, apurando o ouvido, alguma notícia trazida pelo vento quente que destoa do frescor matinal. "Qué raro". Prescruta o céu, mas, não atinge o horizonte, escondido na cortina de edifícios. "Qué raro..."

Faz hora, cuida da chama da vela pois que o dia custa a clarear. Lê um pouco, rabisca apontamentos num caderninho, revisa as tarefas do dia, e sai para o trabalho, com o cabelo úmido como gosta, com uma estranha e triste sensação na alma. Sente que algo lhe escapa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Poema para nos

"Presta atención, pues el tiempo de los hombres de fortaleza ha llegado, la hora del infortunio y las pruebas ha llegado.
En semejante tiempo los pactos están rotos, cuando el cuchillo alcanza el hueso.
Pactos y juramentos se vuelven muy débiles cuando los asuntos de un hombre amenazen su vida.
Ah, coracón mío, no te hagas débil; haz tu corazón fuerte, pues éste es el tiempo para ello.
(...)
Muchas espinas secas hay en ese corazón del que ha brotado un jardín de rosas en Tu protección.
Te he señalado a Ti, pues de Tu sinseñal las alegrías han llegado.
Este es el tiempo de la compasión y la simpatía, pues un pesado golpe me ha caído encima..."


Yalál al-Din Rumi, poeta persa, nacido el 30 de septiembre de 1207, y murió el 16 de octubre de 1273. Uno de los fundadores de la orden de los Mevlevis, o “derviches danzantes”. Está entre los mayores poetas islámicos y del mundo. 

terça-feira, 4 de maio de 2010

Para minha senhora Bárbara: "eu quero agora é sestear nos meus pelegos"

      Querida Senhora Ferreira

A tarde tá esquisita. Já quase passei da metade da lavoura, estamos na época dos cuidados, e espero em breve começar a colheita; mas, até lá, ainda há muita erva daninha a controlar, e Kriptonita não quer saber de Roundup.
Tudo tem seu tempo. No plano macro, sabemos que vamos levando vantagem. Na histoire de long terme de uma vida, se é possivel, tudo dentro de como deve ser. Não podemos pensar que algo seja impossivel, como diz nosso amigo.
En plan micro, dans l'histoire de courte durée, é difícil. Com exceção da vitória do Gremio no Gauchão, sei quase nada. Acho que meu encontro com Rocinante foi meio desanimador. E se ela for uma Quijote? E se o Sancho sempre tivesse sido a cabeça pensante? Dios mío!
"jumento não é, o grande malandro da praça... trabalha, trabalha de graça, não agrada ninguém, nem nome não tem...", viu, por isso que sou feliz, eu tenho nome!
Bárbara, tô cansado. Quero um pelego, quero sestear, cansei desse labor, eu só queria um dia de lagartear, um dia de LML, e não sei onde você está. Tô fulo com essa burguesia, que fica dando trabalho pra gente. Podiam adiantar nosso lado, não é? Assim, chegaríamos mais rápido á margem do rio pra pescar, jogar o peixinho de volta na água, assar o porco, cozinhar mandioca, abrir a cerveja...
Nos vemos, minha nega.

Um abraço
Jimbo

Walpugis

Despacio llegaron todas. Abrazos, presentaciones.

Eligen el espacio más propicio, instintivamente, mientras caminavan por el parque.

Van poniendo los elementos en el suelo. Una se aleja, en busca de hierbas con que hacer el cepillo.

És una noche de iniciaciones. La que tiene el cepillo dibuja el círculo y empeza el rito. Invocación del necesario para la noche.

Sigue con el ritual por más dos horas, y pasa la coordinación a otra mujer. Esta finaliza la noche.

Ellas salen animadas, leves. Luego de probaren fuego, tierra, agua, ar, el acre y el dulce de la vida. Comen y brindan, y tecen lazos entre si, de amistad y cuidado.

Muchas gracias a todas. Gracias Nelken Rot. Gracias Rosa. Gracias Rubi. Gracias Esther, y bienvenida.
He aprendido mucho con vosotras. Ha sido una noche mui especial, como debe ser Walpurgis.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

É uma partida de futebol!

É segunda-feira.
Abrir os olhos e o sorriso aparece. Frio, vento, um catatal de trabalho por fazer, nem tudo agradável.

"posso chorar se ele não ganhar, mas se ele ganha, não adianta, não há garganta que não pare de berrar!"
não adianta. O GRÊMIO É CAMPEÃÃÃÕOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
O dia começa leve e bonito. Como gosto do Vitor, o goleiro, "é um homem de elástico", ele dá segurança pro time, e pra torcida, pra eu também, no caso.
Ficamos com o coração na mão, com um gol do Inter, logo no começo do jogo. Ô sofrimento.

Mas, lembro da Batalha dos Aflitos, na segundona. Achei que meu coração não ia aguentar. Não pude ver tudo, fugi pra sala, chorar no sofá, quando o juiz expulsou quatro jogadores e tínhamos um pênalti contra... queria terminar com o jogo e ir pro tribunal, se pudesse.
Depois daquele dia, sei que qualquer coisa pode acontecer até o apito final de um jogo.

Que coisa estranha, como uma partida de futebol pode nos dar um tão bom dia!
"que coisa linda é uma partida de futebol!!"

A Mulher Árvore

As raízes a fixam
A terra é sagrada
Os olhos fixos
No horizonte
A esperança animadora

O baile dos galhos
A lança no mundo
No cambio da madeira
Das marcas de tantos colúmpios
Risos e joelhos machucados

Na transformação revolucionária
Na espera paciente
Na impaciência ativa...

Ela tem "o tempo do mundo,
tem o mundo afora".

(inspirado no poema do Gustavo, gracias)

domingo, 2 de maio de 2010

Para Jimbo: Aguenta coração!

Jimbo,

Pois, que sofrimento! Só nós aqui, nessa imensidão onde só gremistas resistem, tendo que sofrer com um gol dos colorados???
Tá que o Douglas disse que "no fim dá tudo certo", mas, http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/Campeonato_Gaucho/0,,MUL1584971-9836,00-DOUGLAS+ESPERA+INTER+OFENSIVO+NA+FINAL+VAO+QUERER+VIR+PARA+CIMA.html
nunca confiei muito nessa filosofia...
tanto que tá aí: o jogo começa e 'os cara' fazem um gol!
Che, quem é Oseia? E o Taison ainda tá no Inter? Como assim, Borges rouba a bola de Fabiano Eller (aquele?), e chuta nas mãos de ... Pato?? Puxa, isso que é estar desatualizada...

É, Jimbo, dá umas instruções sobre futebol pras pessoas que estão escolhendo time agora, porque senão, o sofrimento é bem pior.
Sim, porque o Grêmio venceu o jogo de ida por 2, e pode perder assim e ser campeão. Já, outros timinhos...

E dá-lhe Silas, e dá-lhe Jonas, e dá-lhe Borges!!!
"Eu sou do tricolor de Porto Alegre!
E tenho a minha alma azul-celeste
O Grêmio é um sentimento
que se leva no coração,
Na vida e por toda vida
Dá-lhe Campeão!!
Dá-lhe, dá-lhe ôôôôô"

Um abraço, meu velho, e vamos resistindo

bf